quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A “Burrice” da Crise.

Um casal casado há mais de uma década, chega à conclusão que deve colocar um ponto final na relação, pois não se “somam” mais. As divergências e interesses distintos começam a pesar e a ficarem maiores que as coisas boas do relacionamento. Brigas e estresses preenchem a rotina - e nada mais sensato cada um seguir o seu caminho.

O homem dessa relação era o retrato típico de homem-provedor, poderoso do mercado financeiro, do tipo que fica indeciso se o terno Armani combina mais com um relógio Rolex ou Brightling, se compra uma Land Rover ou uma Mercedes, se aluga um apartamento no Leblon ou na Lagoa (afinal, homem do mercado financeiro “não” investe em imóveis), e se as férias desse ano serão na Grécia ou em Praga. O homem dessa relação podia ficar em dúvida quanto a todos os itens acima, mas uma coisa ele nunca teve dúvidas, que sua mulher era uma “burra” que sempre fazia tudo errado. Essa frase era praticamente um mantra diário.

A separação do casal não mais apaixonado, aconteceu no ano passado, a partilha foi feita, e sem brigas cada um ficou com o que era seu de direto. A mulher-burra que nunca trabalhou, ficou com seus 50% da comunhão de bens e o homem poderoso, com os outros 50%. Felizmente, ou infelizmente o casal não tinha filhos.

Cada um seguiu a sua vida e na semana passada, a mulher-burra está passando em seu mais novo possante por Copacabana e se depara com seu ex no ponto do ônibus. Ela imediatamente para o carro e o chama:

- Antônio!
- Vera?
- O que você está fazendo aí parado?
- Estou esperando o ônibus do metrô.
- Ônibus do metrô? Entra aí, te dou uma carona.

Ao entrar no carro, Vera pergunta:

- Te deixo na sua cobertura na Lagoa?
- Não Vera. Mudei, agora estou morando aqui perto, em Copacabana mesmo, no final da Barata Ribeiro.
- Como?? E a sua nova corretora?
- Estou fechando. Com essa crise, aplicando alavancado, poucos clientes e dívidas em dólar, ficou impossível manter o negócio! Quebrei!
- E seu carro?
- Vendi, não dava para pagar as prestações.
- E seus investimentos?
- A crise só me deixou 30%, mas com as dívidas....
- Mas.... e todo o seu patrimônio??? (assustada Vera pergunta)
- Você levou metade e a outra estava aplicada no mercado de ações...
- Nossa! E como você está vivendo?
- Fazendo dívidas nos Bancos e no cartão de crédito, né Vera!? Toda aquela grana aplicada, construída ao longo desses 12 anos... o que não ficou com você, viram dívidas!
- Nossa, Antônio! Estou chocada! Você sempre foi uma cara tão visionário que sempre soube onde e como aplicar o dinheiro. Nunca nem me preocupei com isso...
- É Vera, você sempre teve muita dificuldade em administrar o dinheiro, saber poupar e multiplicar. Boa mesmo você era em gastar!
- Pois é... você sempre me chamou de “burra”, acho que devo ser mesmo! Não entendo dessas coisas.
- Mas, e você Vera? Como está a vida? Que carrão, hein? É do seu novo marido? Tá bonitona também...
- É meu, comprei agora... e como você sabe que vou casar novamente?
- Fiquei sabendo... dizem que o cara é bem sucedido.
- Realmente ele está muito bem, mesmo com essa crise. A empresa dele presta serviços exclusivos para o governo. Como diz o Lula, a crise para ele está sendo só uma “marola”. E você está casado, namorando?
- Minha namorada me deixou... disse que estava descontando todos os problemas dessa crise nela e que não precisava disso! Ela é diretora de uma multinacional, super bem sucedida e independente.
- Ah! Entendi....
- Mas, o que você fez ao longo deste ano? Tá trabalhando? O que fez com o dinheiro?
- Pois é Antonio, achei que era importante começar a trabalhar, até para ocupar o tempo e ser produtiva. Por isso, depois da separação, comprei uma franquia de um negócio, em 6 meses já tive o retorno do investimento e já estou abrindo outra. Comprei 2 apartamentos, um deles na planta e com esse mercado imobiliário aquecido já tive um rendimento de mais de 60% do valor do imóvel, por isso estou vendendo para comprar um outro maior no Leblon, que foi um achado, pois o cara tá precisando de dinheiro Cash por conta dessa crise e o resto coloquei em aplicações de renda fixa e DI, que não sofreram tanto impacto.... estou indo para o meu segundo casamento, fiz uma recauchutagem recentemente e pretendo ter um filho ano que vem... as coisas estão bem, Graças a Deus!
- Graças a Deus??
- Desculpe, Antonio! Graças a você e a minha “burrice” não é mesmo?

Naquele momento Antonio percebeu que sua situação era pior que a piadinha que recebeu pela internet recentemente; que dizia que a crise da bolsa era pior que separação, pois levava seu dinheiro, mas deixava a mulher. No seu caso, além de sem dinheiro e mulher, Antonio deixou que uma “burra” o fizesse de “anta”.

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