domingo, 23 de novembro de 2008

As Entrelinhas da Rotina

O despertador toca. Ainda sinto seu cheiro em meu corpo de ontem à noite. Você dorme. Sinto sua respiração calma, parece estar sonhando. Olho e vejo um anjo. Pela janela o sol brilha e o aroma do café atravessa a sala. Saio a correr e o cheiro do pão quentinho segue pelas ruas despertadamente movimentadas até a beira da praia. Vejo muitos de mim na pista, ou em seus carros, começando o dia abençoado pelo cenário imaculado da Princesinha do Mar. O sol reflete na água como espelho. A energia toma conta do corpo e da alma. Corro, corro, corro. A música se transforma em trilha sonora que impulsiona, estimula e embeleza. A criancinha que passa, acena e sorri. Lembro dos meus filhos e sorrio. O relógio marca a hora de voltar com o pão fresquinho. A água do chuveiro limpa e purifica. A roupa passada e combinada reflete o estado de espírito, lindamente belo.

No metrô, pessoas vem e vão, assim como as estações, olhares e motivos. Cada um com a sua singularidade. Vejo literaturas interessantes, olhares se cruzarem. Escuto o choro da criança, uma briga pelo celular, uma mensagem de “bom dia” e minha estação chegar. Ruas cheias, pessoas circulam. “Bom dia!” para o jornaleiro, porteiro, ascensorista, para mim, para você, para a moça da copa, e novamente o cheiro do café invade pela sala.

O salão está recheado de conhecimento compartilhado, conectado. A produtividade é exalada por metro quadrado. Realizações, papos, piadas e descobertas da vida pessoal rolam pelos corredores estreitos horas a fio de forma diferente a cada dia. Uma ligação, torpedo ou email inesperado “quebram” a seriedade das horas com um sorriso. Naturalmente o dia passa, e mais um “leão” se vence, porém sem mortos ou feridos. A sensação de missão cumprida avisa que é hora de ir para casa.

O sol deu lugar a uma lua bem cheia, dessas que inspiram. E assim como o sol, as ruas agitadas dão lugar às mesas de bares, repletas de amigos, bebidas, histórias, risadas, dessas que também inspiram. Dá vontade de ficar, mas hoje não. Abro a porta e as crianças pulam. Brinco com elas. O cansaço vai embora ao ver aqueles rostos. Beijo meus amores e naquele momento; sinto-me acolhidamente em casa. O banho relaxa e o cheiro do jantar abre o apetite. Sento a mesa e o dia de cada um dá vida e mais cor a família do porta-retrato ao lado. O jantar está uma delícia e cheio de saborosas histórias compartilhadas e unidas naquele espaço e sangues que correm pelas veias.

Hora da novela, do dever de casa, do computador, de arrumar as coisas, de falar ao telefone. A agitação harmônica preenche a sala, quartos e cozinha. Corpo e mente relaxam. O barulho da televisão se mistura com os outros. O sono chega. Coloco o pijama e as crianças para dormir. Me dou conta do novo machucado, dos cachos nos cabelos e que elas estão crescendo. Te procuro. Seu cheiro recém saído do banho toma conta do quarto e adoro. Te olho e ainda sinto o frescor juvenil do “friozinho” na barriga. Deito e me encaixo em seu corpo quente. Sua pele está macia. Não falo nada, mas entendo tudo... finalmente percebi que as entrelinhas não se perdem e a beleza da rotina, seja ela qual for, aparece - quando trocamos o stress por poesia.

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