sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Empacotando a Utopia


Outro dia estava conversando com alguém muito especial, aliás, mais do que especial que me disse: “Ana, às vezes acho que o que você está buscando é uma utopia”. Falávamos de um assunto pontual e na hora pensei: “Helllooo pessoa mais do que especial, eu só quero ser, ou me sentir mais feliz. Que utopia há nisso?”

Confesso que o que ouvi na hora não fez muito sentido para mim, até porque na hora o comentário soou como um acomode-se! Mas, de qualquer forma aquela palavrinha Utopia, não saía da minha cabeça. Por que querer mais pode ser uma concepção irrealizável, fantasia, ou um lugar que não existe?

Passei alguns dias digerindo aquela informação e comecei a ver sentido naquela frase, não só no assunto pontual, mas em um contexto maior. Realmente a utopia em alguns casos explica e consolida a síndrome da insatisfação - síndrome em crescimento exponencial no mundo atual. Pessoas que tem tudo para serem felizes e que teimam em não ser. Problemas, desilusões, stresses, sempre existirão. Problemas de família, de trabalho, de cabeça, de amor, de relacionamentos, fazem parte do nosso dia-a-dia comum.

Em todos os “pacotes” da vida existirão percalços e imperfeições. Alguns podem ser resolvidos, outros nem tanto – mas, administráveis. Os não toleráveis aí sim, devemos pesar e pensar no que fazer. Porém, muitas vezes pegamos um “pacote” cheio de bônus e só focamos nos “ônus”, e passamos a querer e a idealizar outros “pacotes”- aparentemente melhores. Achamos que merecemos mais e que não podemos estar felizes, ou aceitar que estamos felizes com o(s) “pacote(s)” atual(is). Será que isso é o que chamamos aqui de utopia?

Comecei a entender o que essa pessoa mais do que especial queria me dizer: “Ana Flávia você já é feliz, para quê ser mais agora? Curta isso!”. Esse entendimento me fez lembrar uma peça de humor “Nós na fita”, que contava uma história de um cara que morreu tentando bater o próprio recorde! E os atores ironizavam, dizendo que o cara merecia morrer pela burrice. Para quê ele precisava bater um recorde que já era dele?

Por conta da ansiedade, muitas vezes vivemos nessa função de bater nossos próprios recordes! E muitas vezes somos benevolentes com os outros e “Hitler” com nós mesmos. Nos sufocamos até ter certeza que não estamos felizes e que precisamos fazer, ter e ser - mais e mais, para aí sim encontrar a felicidade. Só que nessa corrida “atrás do rabo” utopicamente não a encontramos, pois sempre ficará faltando alguma coisa.

Resolvi parar... é parar. Coloquei todos os meus “pacotes” em cima da cama e os abri. Olhei, um a um sem misturar as coisas – pois é típico descontar ou transferir um “pacote” para outro, ou outros. Analisei todos com seus ônus e bônus. E, excluindo as conclusões que não cheguei, entendi que: não se tem tudo num “pacote” só; que a felicidade não está nos pacotes, mas sim dentro de nós - é só querer enxergar; que muitas vezes vamos precisar de tempo para chegar a alguma conclusão; e que na vida podemos aplicar o método, ou ferramenta de melhoria contínua GUT (Gravidade Urgência e Tendência), pois o que não for Grave, Urgente e Tendencioso hoje, foda-se!

Um comentário:

Ricardo Soares disse...

e viva as utopias...
sem elas não vivemos
bj